A
cada novo passo no caminho do desenvolvimento tecnológico maiores são as
possibilidades de interação, envolvimento e colaboração entre as tecnologias e
as pessoas e entre pessoas e as tecnologias, desencadeando espaços de
convivência.
A
evolução das tecnologias sempre gerou medo ou fascinação, assim foi com a
fotografia, o rádio, a televisão e as tecnologias digitais, porém, todas elas
desencadearam possibilidades de convivência entre as pessoas. Hoje,
testemunhamos uma produção de informação e conhecimentos sem precedentes e a
participação das tecnologias digitais nesta produção é fato inegável, sendo
elas um caminho para a convivência favorecendo a disseminação destas
informações e conhecimentos.
Na
educação como nas mais diversas áreas do conhecimento, as tecnologias digitais,
meios para que se potencializem as relações, principalmente as de comunicação,
são parte do cotidiano das escolas. Esta característica nos leva a uma reflexão
acerca da utilização das tecnologias, especificamente dos Ambientes Virtuais de
Aprendizagem.
Estão
estes Ambientes Virtuais de Aprendizagem contribuindo não somente para o
desenvolvimento cognitivo, mas também no estabelecimento de uma convivência a
partir da afetividade, da reciprocidade e da cooperação?
A
pergunta que tem a intenção de mobilizar os internautas acadêmicos através deste
Blog se estabelece a partir desta reflexão.
Neste
sentido o artigo de Soares, Valentini e
Rech (2011): “Convivência e aprendizagem
em ambientes virtuais: uma reflexão a partir da biologia do conhecer”,
contribui fortemente para entendermos diferentes conceitos que colaboram para a
construção de um possível caminho para encontrar respostas a nossa questão: Como transformar um Ambiente Virtual de
Aprendizagem em um espaço de convivência?
No
artigo as autoras através de um estudo empírico, buscam entender e analisar as
interações registradas por alunos em um Ambiente Virtual de Aprendizagem com
base na teoria da Biologia do Conhecer. Acerca da teoria cabe ressaltar,
Do
ponto de vista da Biologia do Conhecer, ambientes virtuais de aprendizagem
podem ser concebidos como espaços de convivência que precisam de fluxos
contínuos de comunicação para fazer emergir as coordenações recursivas de
condutas. O ambiente utiliza a comunicação como fonte de energia, que, estando
em constante circulação, gera o próprio ambiente através das ideias e da
criatividade. Assim, a aprendizagem surgiria das interações entre os
participantes nos fluxos de comunicação do ambiente (SOARES, VALENTINI, RECH,
2011, p. 44).
As
autoras conceituam o Ambiente Virtual de Aprendizagem como espaço social que
mediado pela comunicação ultrapassa limites de tempo e espaço, considerando-os
“espaços de aprendizagem na web em que os interlocutores do processo interagem
entre si, cooperando e desenvolvendo ideias, ultrapassando fronteiras
geográficas, culturais, de idade e de tempo, para construir aprendizagens
significativas” (SOARES, VALENTINI, RECH, 2011, p. 43).
O
fundamental em um Ambiente Virtual de aprendizagem para as autoras extrapola as
questões operacionais e os recursos ou ferramentas utilizadas e se foca na
forma como ocorre a comunicação pedagógica, apontando para a importância da
configuração do Ambiente Virtual de Aprendizagem constituindo-se do espaço de
aprendizagem e da gestão pedagógica.
Esta
configuração implicará em:
[...]determinadas
características que possibilitem a ocorrência de uma rede, com padrões de
organização que contemplem e facilitem a aceitação do outro, a descentração, o
respeito mútuo, a suspensão de julgamento, a aceitação da diferença, a
cooperação, a parceria nos questionamentos, a autonomia, a reflexão e a
organização de si mesmo (SOARES, VALENTINI, RECH, 2011, p. 43).
Tarefa difícil
mediante a cultura tarefeira ainda presente nas relações professor-aluno, onde
o aluno espera por algo pronto como mero espectador de sua aprendizagem e o
professor que não percebe-se como mediador do processo de aprender do aluno.
Gera-se assim uma necessidade que o
ambiente virtual de aprendizagem transforme-se em um espaço de convivência.
Esta característica do ambiente conforme as autoras dependem das intervenções
do professor que precisa incentivar o aluno a participar dos fluxos de interação
do ambiente.
Ao longo do artigo são citados
diferentes estudos que corroboram a necessidade do aluno e do professor
desenvolver novas relações que rompam as fronteiras impostas por suas
limitações.
Em suas considerações finais,
Soares, Valentini e Rech (2011) apontam para a necessidade de professor e aluno
aceitarem o convite à convivência. Cabe ao professor utilizar estratégias pedagógicas
que possibilitem aos alunos perceberem-se em seu próprio processo de aprendizagem,
mediando suas dificuldades, “incentivando-os a participar, problematizar,
responder, questionar, compartilhar, analisar e, sobretudo, participando dos
fluxos de interações que circulam no ambiente” (p. 57).
E então, temos a resposta para como
transformas ambientes virtuais de aprendizagem em ambientes de convivência? Pensamos
que não, porém, vislumbramos diferentes conceitos que contribuíram para
pensarmos em algumas possibilidades:
- a constituição didático-pedagógica
do professor irá influenciar fortemente na geração de um espaço de convivência
no ambiente virtual de aprendizagem;
- a necessidade de constituição de
redes de convivência a partir da comunicação entre todos os envolvidos,
responsabilizando-os pela manutenção destas redes e por reconhecerem seus
papéis inter-ativos nesta manutenção.
- o professor é o grande
incentivador das redes de convivência, mas o tecer a rede precisa ser uma
constante nas relações constituídas através do ambiente virtual de convivência.
Ainda muito insipientes estas são
algumas de nossas conclusões, em um próximo post mostra-se necessário
conversarmos sobre aprendizagem em ambientes virtuais, assunto que emergiu das
reflexões, pois tornar um ambiente virtual de aprendizagem um ambiente de
convivência será uma estratégia fundamental para que a aprendizagem possa
acontecer.
REFERÊNCIAS
PASSARELLI,
Brasilina. Interfaces Digitais na
Educação: alucinações consentidas. São Paulo: Escola do Futuro da USP,
2007.
SANTOS. Edméa
Oliveira. Ambientes virtuais de
aprendizagem: por autorias livre, plurais e gratuitas. In: Revista FAEBA,
v.12, no. 18.2003. Disponível em http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/hipertexto/home/ava.pdf
Acessado em 09 de janeiro de 2015.
SOARES, Eliana M. do S., VALENTINI, Carla B. e RECH,
Jane. Convivência
e aprendizagem em ambientes virtuais: uma reflexão a partir da biologia do
conhecer.
In: Educação em Revista. Belo Horizonte. V. 27, no. 03, p. 39-60. 2011.
Disponível em http://www.scielo.br/pdf/edur/v27n3/v27n3a03.pdf
Acessado em 09 de janeiro de 2015.
SOUSA, Robson
Pequeno de; MOITA, Filomena M. C. da S.
C. e CARVALHO, Ana Beatriz Gomes. (orgs.) Tecnologias digitais na
educação. [on line] Campina Grande: EDUEPB, 2011.
Acessado em SciELO Books em 09 de janeiro de 2015.
VALENTINI, Carla
Beatris. Tecendo e aprendendo: redes
sociocognitivas e autopoiéticas em ambientes virtuais de aprendizagem.
Porto Alegre: UFRGS, 2003.
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