terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Ambientes Virtuais de Aprendizagem como Ambientes de Convivência


     A cada novo passo no caminho do desenvolvimento tecnológico maiores são as possibilidades de interação, envolvimento e colaboração entre as tecnologias e as pessoas e entre pessoas e as tecnologias, desencadeando espaços de convivência.
     A evolução das tecnologias sempre gerou medo ou fascinação, assim foi com a fotografia, o rádio, a televisão e as tecnologias digitais, porém, todas elas desencadearam possibilidades de convivência entre as pessoas. Hoje, testemunhamos uma produção de informação e conhecimentos sem precedentes e a participação das tecnologias digitais nesta produção é fato inegável, sendo elas um caminho para a convivência favorecendo a disseminação destas informações e conhecimentos.
     Na educação como nas mais diversas áreas do conhecimento, as tecnologias digitais, meios para que se potencializem as relações, principalmente as de comunicação, são parte do cotidiano das escolas. Esta característica nos leva a uma reflexão acerca da utilização das tecnologias, especificamente dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem.
     Estão estes Ambientes Virtuais de Aprendizagem contribuindo não somente para o desenvolvimento cognitivo, mas também no estabelecimento de uma convivência a partir da afetividade, da reciprocidade e da cooperação?
     A pergunta que tem a intenção de mobilizar os internautas acadêmicos através deste Blog se estabelece a partir desta reflexão. 
     Neste sentido o artigo de  Soares, Valentini e Rech (2011): “Convivência e aprendizagem em ambientes virtuais: uma reflexão a partir da biologia do conhecer”, contribui fortemente para entendermos diferentes conceitos que colaboram para a construção de um possível caminho para encontrar respostas a nossa questão: Como transformar um Ambiente Virtual de Aprendizagem em um espaço de convivência?
     No artigo as autoras através de um estudo empírico, buscam entender e analisar as interações registradas por alunos em um Ambiente Virtual de Aprendizagem com base na teoria da Biologia do Conhecer. Acerca da teoria cabe ressaltar,
Do ponto de vista da Biologia do Conhecer, ambientes virtuais de aprendizagem podem ser concebidos como espaços de convivência que precisam de fluxos contínuos de comunicação para fazer emergir as coordenações recursivas de condutas. O ambiente utiliza a comunicação como fonte de energia, que, estando em constante circulação, gera o próprio ambiente através das ideias e da criatividade. Assim, a aprendizagem surgiria das interações entre os participantes nos fluxos de comunicação do ambiente (SOARES, VALENTINI, RECH, 2011, p. 44).

     As autoras conceituam o Ambiente Virtual de Aprendizagem como espaço social que mediado pela comunicação ultrapassa limites de tempo e espaço, considerando-os “espaços de aprendizagem na web em que os interlocutores do processo interagem entre si, cooperando e desenvolvendo ideias, ultrapassando fronteiras geográficas, culturais, de idade e de tempo, para construir aprendizagens significativas” (SOARES, VALENTINI, RECH, 2011, p. 43).
     O fundamental em um Ambiente Virtual de aprendizagem para as autoras extrapola as questões operacionais e os recursos ou ferramentas utilizadas e se foca na forma como ocorre a comunicação pedagógica, apontando para a importância da configuração do Ambiente Virtual de Aprendizagem constituindo-se do espaço de aprendizagem e da gestão pedagógica.
     Esta configuração implicará em:
[...]determinadas características que possibilitem a ocorrência de uma rede, com padrões de organização que contemplem e facilitem a aceitação do outro, a descentração, o respeito mútuo, a suspensão de julgamento, a aceitação da diferença, a cooperação, a parceria nos questionamentos, a autonomia, a reflexão e a organização de si mesmo (SOARES, VALENTINI, RECH, 2011, p. 43).

       Tarefa difícil mediante a cultura tarefeira ainda presente nas relações professor-aluno, onde o aluno espera por algo pronto como mero espectador de sua aprendizagem e o professor que não percebe-se como mediador do processo de aprender do aluno.
     Gera-se assim uma necessidade que o ambiente virtual de aprendizagem transforme-se em um espaço de convivência. Esta característica do ambiente conforme as autoras dependem das intervenções do professor que precisa incentivar o aluno a participar dos fluxos de interação do ambiente.
       Ao longo do artigo são citados diferentes estudos que corroboram a necessidade do aluno e do professor desenvolver novas relações que rompam as fronteiras impostas por suas limitações.
       Em suas considerações finais, Soares, Valentini e Rech (2011) apontam para a necessidade de professor e aluno aceitarem o convite à convivência. Cabe ao professor utilizar estratégias pedagógicas que possibilitem aos alunos perceberem-se em seu próprio processo de aprendizagem, mediando suas dificuldades, “incentivando-os a participar, problematizar, responder, questionar, compartilhar, analisar e, sobretudo, participando dos fluxos de interações que circulam no ambiente” (p. 57).
       E então, temos a resposta para como transformas ambientes virtuais de aprendizagem em ambientes de convivência? Pensamos que não, porém, vislumbramos diferentes conceitos que contribuíram para pensarmos em algumas possibilidades:
       - a constituição didático-pedagógica do professor irá influenciar fortemente na geração de um espaço de convivência no ambiente virtual de aprendizagem;
       - a necessidade de constituição de redes de convivência a partir da comunicação entre todos os envolvidos, responsabilizando-os pela manutenção destas redes e por reconhecerem seus papéis inter-ativos nesta manutenção.
       - o professor é o grande incentivador das redes de convivência, mas o tecer a rede precisa ser uma constante nas relações constituídas através do ambiente virtual de convivência.
       Ainda muito insipientes estas são algumas de nossas conclusões, em um próximo post mostra-se necessário conversarmos sobre aprendizagem em ambientes virtuais, assunto que emergiu das reflexões, pois tornar um ambiente virtual de aprendizagem um ambiente de convivência será uma estratégia fundamental para que a aprendizagem possa acontecer.

REFERÊNCIAS

PASSARELLI, Brasilina. Interfaces Digitais na Educação: alucinações consentidas. São Paulo: Escola do Futuro da USP, 2007.

SANTOS. Edméa Oliveira. Ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias livre, plurais e gratuitas. In: Revista FAEBA, v.12, no. 18.2003. Disponível em http://www.comunidadesvirtuais.pro.br/hipertexto/home/ava.pdf Acessado em 09 de janeiro de 2015.

SOARES, Eliana M. do S., VALENTINI, Carla B. e RECH, Jane.  Convivência e aprendizagem em ambientes virtuais: uma reflexão a partir da biologia do conhecer. In: Educação em Revista. Belo Horizonte. V. 27, no. 03, p. 39-60. 2011. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/edur/v27n3/v27n3a03.pdf Acessado em 09 de janeiro de 2015.

SOUSA, Robson Pequeno de;  MOITA, Filomena M. C. da S. C. e CARVALHO, Ana Beatriz Gomes. (orgs.) Tecnologias digitais na educação. [on line] Campina Grande: EDUEPB, 2011. Acessado em SciELO Books em 09 de janeiro de 2015.


VALENTINI, Carla Beatris. Tecendo e aprendendo: redes sociocognitivas e autopoiéticas em ambientes virtuais de aprendizagem. Porto Alegre: UFRGS, 2003. 

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